A misteriosa chama da rainha Loana

Sou uma leitora compulsiva e, portanto, no meio de tantos livros que já li e que me marcaram (por qualquer razão, boa ou má!), o facto de me ter saltado este título quando quis seleccionar um livro para pôr no meu perfil deve ser significativo.
O que tem este livro de tão especial? Não foi o título que me atraiu, o autor sim, gosto muito de Umberto Eco, desde há muito tempo, desde que li “O Nome da Rosa”, nos idos de 1986. Na verdade, temos de caminhar pelo livro fora, até bem mais de metade, para lhe percebermos o título.
Este livro conta-nos a história de Yambo, um livreiro de uma cidade italiana, particularmente interessado em livros antigos, que compra e vende. Yambo teve um AVC, do qual acordou sem memória. Não reconhece a mulher nem a restante família, não faz ideia da sua ocupação ou da sua morada. No entanto, mantém a memória semântica, isto é, recorda o que aprendeu e que não se relaciona directamente consigo. Por exemplo, não se recorda do seu nome nem do que fazia, mas sabe perfeitamente quem foi Napoleão. Na tentativa de recuperar a sua história pessoal, vai fazer a convalescência para o campo, para a velha casa da família, onde passou a infância e a juventude. Aí descobre um sotão, cheio de livros de aventuras e de quadradinhos, pagelas, discos antigos, que tinham lhe tinham povoado os dias e os sonhos, e através dos quais se vai redescobrindo. Um segundo AVC apanha Yambo no meio desta viagem no tempo e lança-o num fogo de artifício de referências e farrapos de recordações, do qual emergem finalmente algumas respostas.
Com Yambo, acompanhando a sua aventura de descoberta de si próprio, nós vamos também descobrindo a história da Itália nos anos 30 e 40, os anos do fascismo e da guerra. Mas vamos também revivendo a história da cultura popular dos meados do século XX, numa viagem fascinante a um mundo que ainda tocámos, mas que já não existe nesta época de comunicação global.
É um livro fascinante, muito bem escrito, que sabe bem reler.

Comentários

  1. Olá Teresa!
    Casas de campo, convalescências, livros antigos,Humm soa tudo tão bem...

    Sempre que puder, prometo voltar com mais comentários ao teu blog, que acho sóbrio, legível, e como previa, interessante e inteligente.

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  2. Obrigada!
    Cá fico à espera. E, se eu trocar uma data, não faças cerimónia!
    Teresa

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