O Planalto e a Estepe

De Pepetela, não é preciso dizer mais nada. Nome grande da literatura lusófona da actualidade, nasceu em Benguela, Angola, em 1941. Passou pelo exílio, pela guerrilha, pela política; hoje é professor na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e dirigente de várias associações culturais. Além disto tudo, é um dos meus escritores favoritos. Recebeu o Prémio Camões em 1997.

Neste seu livro O Planalto e a Estepe, editado pela Editora D. Quixote, cruzam-se todas as referências da sua vida de luta e de sonhos a cumprir. Tendo como pano de fundo um amor que parece impossível mas que dura uma vida inteira, o protagonista, que fala na primeira pessoa, integra muitas das experiências de vida do próprio autor. Entretecida na luta pela libertação de Angola e na sua afirmação como país independente, ressalta a desilusão com o socialismo real e o internacionalismo proletário que servia de fachada aos conflitos da Guerra Fria.

Mas, acima de tudo, é um romance de amor. Um amor que surge em Moscovo, entre um estudante de Angola e uma estudante da Mongólia. Um amor de portas cerradas pelos interesses da política real e a mesquinhez das pessoas concretas. Um amor que, afinal, sobrevive a tudo até se poder manifestar plenamente, já no ocaso da vida (um pouco a fazer-me lembrar O Amor em Tempos de Cólera, de Gabriel Garcia Marquez).

E, a embalar todo o romance, o sabor africano da língua portuguesa, inventando novas palavras e novos “rítimos”, enquanto o seu protagonista cruza continentes.

Os Continentes são convenções,

apenas existem terras separadas por mares.

Nos bolsos dos seres marinhos há sempre montes de terra seca.

Nós desconseguimos de chegar aos bolsos aferrolhados.

Na loucura do pôr do sol, gaivotas gritam avisando rotas.

Uns poucos sabem traduzir os gritos das gaivotas.

Esses chegam a terra firme.

(Pepetela, O Planalto e a Estepe)

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