A Viagem do Elefante

Já escrevi noutro post que as férias também servem para pôr as leituras em dia. Dos livros que li, quero destacar A Viagem do Elefante, de José Saramago, agora que se aproxima o lançamento de mais um livro do autor.

Saramago costuma partir de uma ideia original, que depois desmonta e explora. Desta vez, como no Memorial do Convento, parte de um facto histórico, para montar à sua volta todo um universo ficcional, com um olhar sarcástico sobre o mundo. O facto histórico é a oferta de um elefante indiano, feita por D. João III a seu primo, o arquiduque Maximiliano de Áustria, que se encontrava na altura a estanciar em Valladolid. O elefante, Salomão de seu
nome, encontrava-se há dois anos em Belém e vai encetar uma viagem de Lisboa a Valladolid, ao encontro do arquiduque, continuando depois até Viena de Áustria, como parte do seu séquito e claro trunfo de propaganda política. Estamos no século XVI e esta viagem, por terra, mar e rio, cruzando as áridas planícies espanholas assim como os Alpes, com as suas tempestades de neve, oferece muitos perigos e dificuldades. O que vale é que Salomão é um elefante com muito bom feitio, que até protagoniza um milagre na Basílica de Santo António, em Pádua.
Não há muitos registos históricos desta viagem, pelo que José Saramago pôde preencher todos os espaços em branco a seu belo prazer. Assim, seguimos o elefante Salomão, a quem Maximiliano da Áustria muda o nome para Solimão, até Viena de Áustria, guiado por um cornaca inteligente e com traços de filósofo, acompanhado por soldados, couraceiros, trabalhadores à jorna, cruzando-se com padres mais ou menos inventivos e populações em festa e espanto perante tal bicho. Não há personagens com grande densidade psicológica (com excepção, talvez, do cornaca), há um grupo em viagem, e é da viagem que reza o livro. No entanto, o seu maior brilho está nos diálogos entre os vários protagonistas, fantasiosos ou realistas, mais ou menos subtis ou irónicos, mas sempre de grande riqueza.
Gostei muito e se alguém ainda não leu (o que me custa a crer, pelo número de exemplares já vendidos), recomendo!

Comentários

  1. Teresa, aproveitei que estive lendo sua blogagem coletiva, que por sinal gostei muito, e resolvi dar umas espiadinha pelo seu espaço.
    Ainda não li "A viagem do Elefante", mas gostei do relato, gosto muito do Saramago e vou providenciar logo,logo. rsrs
    Seu blog é excelente,porque ficamos informados de bons filmes e boa leitura, vou segui-la.
    Abraços brasileiros

    ResponderEliminar
  2. Olá Lis
    Obrigada pelas suas palavras, fico muito feliz.Será sempre benvinda nesta minha sala de conversas.
    Beijinho

    ResponderEliminar
  3. Olá,
    Este foi o único livro de Saramago que consegui ler até ao fim e adorei!
    Vou dar uma oportunidade aos outros que ficaram a meio :)

    ResponderEliminar
  4. Olá Paula
    Também foi dos livros que gostei mais, do Saramago dos últimos anos. Há que dar uma oportunidade aos dos primeiros tempos, que são os melhores, claramente.
    Bjs

    ResponderEliminar
  5. Li a Viagem.
    Gostei, como gosto de toda a obra de Saramago, desde o notável "Sermão aos peixes" com que iniciou a "Viagem a Portugal". Mas, volta e meia lá vou ao "Memorial do Convento" para o reencontro com a extraordinária Belimunda.
    Bjs

    ResponderEliminar
  6. Carlos
    Fico muito contente por o encontrar de visita aos meus posts passados.
    Também gosto muito de Saramago, mas confesso que os meus predilectos são os romances mais antigos, "O ano da morte de Ricardo Reis", "História do Cerco de Lisboa", e tenho um fraquinho pel' "As Intermitências da Morte".
    Bjs

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A Figueira da Foz e Jorge de Sena

Cigarros, chocolates e cigarros de chocolate

Sapos e outras superstições