A Carris e os idosos

A Carris publicou os números do seu desempenho, no primeiro semestre deste ano. Não sou economista, não sei avaliar a maioria dos dados, embora tenha ou possa ter um olhar crítico sobre eles. Mas há um número que me chama a atenção: segundo os dados fornecidos, houve uma diminuição de cerca de 40 000 passes sociais da 3.ª Idade vendidos no mesmo período. Que se passou?
Não nos estamos a referir a pessoas que ficaram desempregadas, ou que emigraram. Nesta faixa etária, as pessoas utilizam o passe social para ir ao médico ou ao Centro de Saúde, para ir ver os netos ou dar uma mãozinha a um filho, para ir ao jardim apanhar um pouco de sol, para ir visitar uma amiga que está doente, ou que apenas precisa de um pouco de companhia. Para ir ao supermercado, porque já custa a subir a rua com as compras. Para ir buscar as radiografias, ou os sapatos que ficaram a mudar as capas no sapateiro, ou as fotos do último Natal, que mandaram imprimir porque não as sabiam guardar no computador. Para viver, enfim. Porque ter qualidade de vida, nos idosos, inclui ter a possibilidade de se deslocarem com alguma autonomia e gosto pela vida.
Volto a perguntar: o que se passou, então? Houve assim tanta gente a decidir que não valia a pena ter liberdade de circulação na cidade de Lisboa? Não me parece! O que se passou foi que o Passe Navegante da Terceira Idade, da Carris, perdeu a redução de preço e muitos houve, com certeza, que deixaram de o poder adquirir, confinando-se ao isolamento de que os programas televisivos fazem um eco descontinuado.
Não é fácil ser idoso. Cada vez o é menos. Tem de haver um olhar diferente e sensível sobre estas situações.
Dá-me vontade de perguntar se entre estes cidadãos e o Estado não se poderia estabelecer uma espécie de parceria público-privada de um novo tipo. Todos ficaríamos a ganhar. Seriam certamente mais proveitosas do que as outras!



Fotografia © Paulo Spranger/Global Imagens

Comentários

  1. Sensibilidade (e bom senso) é coisa que os nossos governantes não têm, mas nós temos... que os gramar.
    :(

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  2. Sensibilidade e bom senso? Pois, tal como diz o Rui Pascoal, não moram na cabeça destes governantes.

    Mas não foi só à terceira idade que cortaram o desconto na aquisição de passes: também aos estudantes! E, segundo ouvi dizer, também os pais destes deixaram de lhes comprar passes. É que sem o referido desconto, mais vale terem módulos pré-comprados... e andarem mais a pé!

    Ou seja, no geral, penso que os transportes perderam utentes. Pelo menos nestas duas faixas etárias. E aí, esses administradores devem estar muito contestes e satisfeitos com a sua "brilhante" ideia!

    Mas a pergunta que se impõe é a seguinte: para que é que os portugueses pagam tantos impostos, se na justiça, saúde, educação, transportes, estradas e tal - que o Estado devia assegurar para todos - cada vez os custos são mais elevados? Quer dizer, pagar impostos altíssimos, com contrapartidas cada vez mais escassas não é um roubo?

    Beijocas!

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  3. A questão é que parece que só as parcerias e contratos com os grandes grupos económicos são difíceis de quebrar ou alterar. Os contratos com os cidadãos são estilhaçados com uma facilidade enorme.

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  4. Os idosos são um empecilho para este goveno. Só me espanto, porque ainda não oubi ninguém aconselhá-los a emigrar. Mas arece que já há por aí um grupo de estudo a tentar criar aquela injecção atrás da orelha que resolve todos os problemas.

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