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A mostrar mensagens de 2016

Ainda se caçam Pokemons?

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Escrevi num post anterior que, quando passei por França, no mês de agosto, só se falava de dois assuntos, nos telejornais: o problema do burkini e a polémica da caça aos Pokemons. Não que alguém quisesse impedir esse singular desporto da era digital. Falei com vários jovens sobre o assunto e todos me declaravam enfaticamente que era muito saudável caçar Pokemons porque os fazia caminhar quilómetros e interagir com outros caçadores. Aceito o argumento, embora me pareça que era a mesma coisa se corressem na marginal ou andassem de bicicleta... Nas noites quentes de verão, encontravam-se às centenas por Lisboa, desde Belém até ao Parque das Nações. Os caçadores de Pokemons eram facilmente reconhecíveis. Caminhavam geralmente em grupos, todos mais interessados nos seus telemóveis do que na conversa com o vizinho do lado. De vez em quando, agrupavam-se em certos locais: parece que aí havia mais pokemons à solta, ou ginásios para os ditos fazerem qualquer coisa que nunca percebi be

A minha liberdade condicional

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Eu não sabia, mas cometi um crime: estou doente. Desenvolvi uma tendinite no ombro direito que me tem dado muito que fazer! Depois de meses a tentar conciliar as aulas com os tratamentos, a correr para não deixar nada para trás, a dormir mal com as dores e com a ansiedade, a minha médica disse: Basta! E pôs-me de baixa. Veredito: braço em repouso e fisioterapia, de preferência, diária. A baixa médica transformou-me logo num suspeito, aos olhos do Estado. A nossa elite legisladora, que sabe bem como contorna a lei quando lhe dá jeito, julga-nos a todos pelo seu próprio exemplo. Daí a suspeição! Eu podia utilizar a pequena fortuna com que o Estado me remunera mensalmente (especialmente em situação de baixa) para, por exemplo, ir apanhar sol para a República Dominicana, ou, pelo menos, para deambular pelos centros comerciais, a comprar as prendas de Natal... Sendo suspeita de defraudar o meu empregador, sou sujeita a uma medida de coacção: termo de identificação e residência. Medida

A viagem de balão que eu (não) fiz...

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Terminou neste fim de semana o 20.º Festival de Balões de Ar Quente, que pôs, mais uma vez, dezenas de balões a colorir os céus do Alentejo. É sempre um espetáculo magnífico e eu lá rumei até terras alentejanas, para voar ou, simplesmente, apreciar as vistas... Os anúncios do festival declaravam " Para os mais destemidos, há viagens diárias e gratuitas em balões de ar quente, que permitem assistir ao brilho do nascer e pôr-do-sol e desfrutar das paisagens da planície alentejana. Só têm de estar nas tendas dos “meeting points” às 6h30 ou às 14h45, tendo em atenção que há vagas limitadas." Eu não me sentia com muita coragem para essas esperas, mas os anúncios falavam também de vouchers, com voos garantidos. Como tenho amigos no Alentejo, pedi para me comprarem os vouchers. E paguei-os de boa vontade, já que eram vendidos pelos bombeiros e o seu valor revertia para as suas corporações. E, no sábado, lá fomos para o Alentejo! Às 14h e 30, a fila já começava a formar-

O caos em Lisboa

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Este início do ano letivo, que corresponde também ao final das férias para muitos portugueses, tem sido especialmente penoso para os lisboetas. As obras em várias zonas da cidade, assim como a degradação do serviço público de transportes, tem trazido o desespero e uma fúria resignada a todos os que têm de se deslocar para trabalhar ou fazer qualquer outra coisa na capital. Já se tem ouvido falar dos problemas do metropolitano de Lisboa. Não os entendo bem. Nos últimos anos, havia greves dos trabalhadores do metro semana sim, semana não, alegadamente em defesa de um melhor serviço para os passageiros; e, no entanto, tudo parecia funcionar bastante bem. Agora, a situação é caótica mas não se ouvem protestos. Será que o serviço está melhor? Parece-me bem que não! Não me lembro de chegar à linha azul e ver que o próximo comboio só parte dali a vinte minutos. Esperas de quinze, dezassete minutos tornaram-se vulgares. O resultado é evidente: estações cheias e comboios apinhados.

Uma caldeirada na Trafaria

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Um destes dias, convidaram-me para ir até à Trafaria, comer uma caldeirada. É um daqueles convites que são irrecusáveis... Aproveitar os últimos dias de sol... Cruzar o Tejo num ferryboat dos antigos, um cacilheiro a sério, amarelo, onde ainda podemos apoiar-nos na amurada, a sentir o vento e as ondas do rio... Saborear um peixinho fresco, cozinhado das formas mais tradicionais... Que bom programa! Há muitos anos que não ía à Trafaria e estava com curiosidade em ver como estava aquela pequena vila, fronteira a Lisboa. Parecia-me talhada para ser um ponto de referência turística: a vinte minutos da capital, com saída da estação fluvial de Belém e cruzando o Tejo num passeio muitíssimo agradável! Os seus restaurantes são conhecidos, os pratos são recomendados. Esperava ver uma vila mimosa, cheia de esplanadas, com restaurantes de decoração marítima e tradicional, com jardins e passeios cuidados até ao porto fluvial. Infelizmente, enganei-me. Encontrei uma aldeia de subúrbio, c

Postal de Lisboa XXV - Os azulejos de Lisboa

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Hoje, passámos a manhã a passear por Lisboa, de nariz no ar, a observar os azulejos das fachadas dos prédios. Todos deviamos fazer isto mais vezes, tirar tempo para olhar à nossa volta, com vagar. Muitas vezes, é aquilo que está ao pé de nós, que vemos todos os dias, que mais nos escapa! É o caso dos azulejos. Todos nós, em Lisboa, nascemos e crescemos rodeados de azulejos. Eles estão nas fachadas e nos interiores. Nos cafés e nas igrejas. Nas casas de banho e nas escadarias nobres. Atapetam prédios inteiros ou são apenas frisos, à volta das janelas ou no topo dos edifícios. São multicolores ou monocromáticos. Têm padrões geométricos ou motivos florais. São tantos e tão diversificados que já não lhes damos importância nenhuma. A arte do azulejo é uma das nossas heranças mouras. A partir do século XVI, XVII, atinge aqui em Portugal, no entanto, um esplendor quase único. Um século depois, salta do interior para o exterior e cobre fachadas inteiras. E, quando Lisboa cresce e se

Igualdade, em pequenos lances

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Arranjei um problema num ombro, complicado, doloroso. As causas são um tanto obscuras: o médico fala de situações de tensão continuada e maus posicionamentos relacionados com a atividade profissional. A consequência foi só uma: tratamentos de fisioterapia até... sabe-se lá quando! Felizmente, a minha fisioterapeuta é muito simpática. É jovem, risonha, muito profissional. E gosta de conversar enquanto trabalha. Diz que ajuda a descontrair os pacientes... provavelmente tem razão.  Foi assim, nessas conversas, que eu fiquei a saber que ela tem um hobby pouco vulgar: é árbitro de futebol. Não deve ser tarefa fácil, num meio em que ainda impera a testoesterona. Provavelmente, teriam de mudar o tipo de insultos que os adeptos dirigem aos árbitros. E, sinceramente, não sei se impõem mais ou menos respeito em campo. Segundo parece, as árbitros (ou árbitras? tenho de lhe perguntar!) ainda são poucas. Arbitram principalmente jogos do Campeonato Feminino de Futebol, embora possam arbitrar

Noites de música

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Ontem à noite, a EGEAC ofereceu outra vez aos lisboetas, e a quem quis assistir, um espetáculo de elevadíssima qualidade. A noite estava tépida e aprazível e o Terreiro do Paço encheu-se com milhares de pessoas de todas as idades e feitios que quiseram ouvir música. Era o concerto de inauguração da temporada da Orquestra Gulbenkian. A música foi escolhida a dedo: o encanto e exotismo das danças do Prince Igor, de Borodin; o romantismo do Peer Gynt, de Grieg; e a elegância da Rhapsody in Blue, de Gershwin, tocada com o talento de Mário Laginha. Foi muito bom ouvir a música, mas também foi muito bom perceber a educação daqueles milhares de pessoas, que souberam quando aplaudir e quando estar em silêncio. Parabéns à EGEAC, é assim que se leva a música às pessoas e as pessoas à música! Durante o serão, lembrei-me muitas vezes das quentes tardes de verão e das longas viagens de carro em que eu e os meus filhos inventavamos histórias, inspirados por algumas destas músicas. Uma delas, da

A alma das flores

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- O que é que tem hoje, D. Adília? Abriu a boca para dizer qualquer coisa, talvez o costumeiro "não é nada", mas ficou com o gesto suspenso. Passado um momento, meneou a cabeça, sem conseguir dizer uma palavra. - Está aí com uns olhos tristes, a cabeça encostada na mão... passa-se alguma coisa! - Nem sei como explicar. Os anos, já mais de oitenta, pareciam pesar-lhe mais do que o costume. Suspirou. Como explicar o que lhe ia na alma? - Andam a limpar a fachada do meu prédio. Fazem a limpeza com jactos de areia e temos de ter as janelas e as varandas desocupadas. Comecei a tirar os vasos de flores, mas não tenho onde os pôr. A minha casa é pequenina, não tenho sítio para as minhas flores. Já comecei a dá-las, mas acho que algumas vão morrer. Custa tanto separar-me das minhas flores! Tenho umas sardinheiras vermelhas, grandes, carnudas... e uma buganvília, linda! O que vai ser das minhas flores? Limpou uma lágrima e voltou a suspirar. - A minha filha já ralhou co

Burkini ou não, eis a questão

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Mulher muçulmana, usando um burkini, faz surf numa praia da Califórnia Durante as férias que agora vão terminando, um dos países por onde passei foi a França. Como, mesmo em viagem, mantenho o hábito de ir ouvindo as notícias logo de manhã, apercebi-me que havia dois assuntos que dominavam os noticiários franceses: um deles era a polémica do burkini. Ao outro assunto voltarei, aqui, noutra oportunidade. Para quem anda mais distraído, o burkini é uma espécie de pijama de mangas e calças compridas, que inclui um toucado ou lenço para a cabeça e destina-se às mulheres muçulmanas que querem ir a banhos. Vou ser muito sincera: não tenho qualquer espécie de simpatia por um regime político ou uma religião que subalternize a mulher. Essa subalternização pode ser feita de muitas maneiras, desde impedindo-as de ir à escola até à obrigação de se esconderem atrás de uma fatiota disforme e uniforme, que as despersonaliza e retira da visibilidade social. Recordo-me de ter visto algumas dess

História na paragem do autocarro

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Estava calor, na paragem do autocarro. O sol batia diretamente na chapa e, naquele meio de tarde, a paragem parecia uma estufa. Um senhor idoso, de cor escura, sentou-se ao lado de uma senhora idosa, de cor clara. Mas voltou a levantar-se do banco, dizendo que estava demasiado quente. Por razões incompreensíveis, a senhora idosa sentiu-se ofendida e protestou:  - Não estava mais calor, lá de onde veio? O homem retorquiu-lhe sem demoras: - E como é que a senhora sabe de onde é que eu venho? Acha que eu venho de África por causa da cor da minha pele? Eu sou tão português como a senhora! Aposto que a senhora também não sabe de onde vieram os seus antepassados! Houve muitas invasões de povos e a senhora não sabe quais são as suas origens! As pessoas não sabem História! Comecei a ouvir atentamente aquela defesa da História, entrecortada de pronúncias e acentos variados. A senhora tentava desculpar-se com argumentos inúteis, que já iam nos seus antepassados transmontanos, o homem

Em Timor festejou-se a vitória de Portugal

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Depois da emoção que foi, para muitos portugueses, a passagem da seleção portuguesa às meias-finais no Euro 2016, tivemos outro momento não menos emocionante: as imagens dos festejos em Timor Leste. Eram 6h 30 da manhã em Dili quando o jogo finalmente acabou, depois do prolongamento e dos penalties. E dezenas de bandeiras de Portugal sairam à rua, empunhadas por muitos timorenses, a pé ou de motocicleta, que percorreram as ruas de Dili festejando a vitória de Portugal, como se fora a sua própria. Estas imagens são emocionantes, porque nos mostram a ligação emocional que ainda existe entre um território longínquo, parte de um império colonial vasto e disperso, e esta cabeça do império, tantas vezes desorganizada e pouco eficaz.  Penso, por vezes, que sofremos de um qualquer complexo em relação ao nosso passado colonial. Umas vezes, incensamo-lo, exageramos os heroísmos e os nacionalismos. Outras vezes, deixamos pesar mais os complexos de culpa e só recordamos a exploração e a

Na paragem do autocarro

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- Posso sentar-me aqui? Distraída como sempre, tinha-me sentado e colocado a mala ao meu lado, ocupando um assento no banco da paragem. Quem se dirigia a mim, sorrindo, era uma senhora idosa, e eu respondi-lhe também com um sorriso, pondo imediatamente a mala ao colo. - Claro que sim, desculpe, estava distraída. - Se eu não fosse já velhota não lhe dizia nada, mas custa-me estar em pé, sabe? - Mas fez bem, tinha direito ao lugar, nem que tivesse dezoito anos. - Ah, se eu tivesse dezoito anos... E começou a cantarolar: Ai quem me dera, ter outra vez vinte anos... - Isto era um fado do meu tempo. Como é que se chamava a fadista?  A senhora fazia um esforço para se recordar do nome, mas não conseguia. Sei bem o que isso é, também já me vai acontecendo... Voltei a dirigir-lhe um sorriso: - Se tivesse vinte anos, lembrava-se do nome! - Às vezes, até tenho medo de me esquecer do meu próprio nome. Olhe, menina, digo sempre o meu nome e a minha morada aos motoristas dos au

Brexit...

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E pronto, a Grã-Bretanha lá decidiu abandonar um espaço onde nunca esteve de coração, a União Europeia. Mesmo que não tivesse nenhuma ideia definida sobre o assunto (o que não é o caso), bastar-me-ia ver quem festejou os resultados do referendo inglês para temer pelo nosso futuro coletivo. Começando em Donald Trump e acabando em Marine Le Pen, passando por todos os partidos europeus, pequenos ou grandes, que não partilham dos ideais europeístas. Os extremistas e nacionalistas exultam... e o discurso demagógico vai ganhando terreno. Quando é que já vimos isto? Há muitas questões em cima da mesa, que vão da economia à situação de regiões como a Escócia, a Irlanda, Gibraltar. Há o pano de fundo do discurso xenófobo ligado à imigração e aos refugiados. Haverá com certeza muitas coisas inesperadas nos próximos tempos. E, de repente, o nosso mundo já não parece o mesmo... A União Europeia tem estado de costas voltadas para os problemas concretos dos cidadãos europeus. Tenho alguma es

O festival de carne de cão

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É na China, é claro! Inicia-se hoje o célebre Festival de Yulin, na província de Guangchi, onde o principal pitéu é a carne de cão.  Há já anos que se organiza este festival, sempre na altura do solstício de verão e sempre acompanhado de protestos e petições vindos de todo o mundo. Como parece evidente, as autoridades de Yulin são perfeitamente indiferentes aos protestos e continuam a organizar o festival, que é um sucesso. Só nas edições de 2014 e 2015, estima-se que tenham sido mortos e consumidos cerca de 10.000 cachorros por ano. Muitos desses cães são caçados e até roubados, para serem cozinhados no festival.  As opiniões dos chineses dividem-se: alguns dizem que comer carne de cão é um gosto, mas não uma tradição; mas muitos outros, num país conhecido pelos seus estranhos hábitos gastronómicos, consideram que é uma tradição daquela província, que não se deve quebrar. Confesso que estou a escrever tudo isto e a sentir calafrios. O cão não é como outro animal qualquer, e

Os adeptos portugueses

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Não, não vou aqui escrever sobre futebol, os meus conhecimentos sobre o assunto são risíveis. Por maioria de razões, também não vou tecer qualquer tipo de comentário sobre o jogo de Portugal com a Áustria, ontem. Deixo isso para os inúmeros "doutores do futebol", que nos massacram durante horas seguidas com previsões sobre os jogos, seguidas de outras tantas horas com análises exaustivas sobre os mesmos. Procuro seriamente não os ouvir, mas é difícil não prestar alguma atenção ao que se passa à volta dos jogos. Não me lembro de um campeonato de futebol com tanta violência. Não dentro do campo, mas nas bancadas, à volta dos estádios, no centro das cidades onde decorrem os jogos. Quase todos os dias vemos imagens de adeptos, alcoolizados ou não, que se envolvem em tumultos. São ingleses, ou croatas, ou russos, ou ucranianos... Às vezes, são manifestações de força organizadas, protagonizadas por energúmenos de corpos tatuados e murros prontos. Vemos cargas policiais e praças

Outra vez 10 de junho...

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Quem me conhece, sabe que não morro de amores por este feriado, muito pelo contrário! Já aqui escrevi sobre isso, há dois anos atrás. Enfim, é feriado... e isso sabe sempre bem! Este ano, no entanto, há aspetos diferentes. Se, por um lado, as comemorações se centraram nos desfiles militares no Terreiro do Paço, a fazerem lembrar as comemorações de antigamente, por outro lado, abriram-se de novo ao povo português, e isso agradou-me muito. Gostei de saber que os condecorados deste ano eram pessoas comuns que se tinham distinguido ao serviço dos outros, sejam militares sejam civis, como as porteiras de Paris, que ajudaram desinteressadamente todos os que lhes apareceram à porta, naquela noite terrível de atentados. Nunca aderi àquelas condecorações maciças de jovens (ou menos jovens) empreendedores. Nada tenho contra os empreendedores, sejam eles estilistas ou empresários industriais. Agem para o seu próprio lucro e benefício, no que fazem muito bem! Mas... condecorados, porquê? T

Pessoas que não se calam

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Há um certo tipo de seres humanos que, numa viagem, são totalmente insuportáveis: as pessoas que não se calam... Geralmente, no meio da lufa-lufa do dia a dia, não damos muito por elas. Mas, quando nos sentamos num autocarro ou num comboio para uma viagem mais ou menos longa e temos a pouca sorte de ter uma pessoa assim como companheiro de viagem, não temos escapatória. Começam por esboçar um sorriso ou tecer qualquer comentário amável e, quando damos por isso, já estão lançadas em monólogos imparáveis. Como somos, em geral, pessoas bem educadas, não temos a coragem de as mandar logo às urtigas e aguentamos estoicamente, fingindo algum interesse por todos os pormenores com que esses faladores nos vão bombardeando... Podemos tentar, de quando em vez, transformar o monólogo em diálogo e dizer algumas palavras. Mas é um esforço inglório. Essas pessoas estão tão centradas em si mesmas que rapidamente interrompem para voltar ao seu discurso. Contam tudo, falam de uma vida que pode ser

Postal de Lisboa XXIV - A Mesquita de Lisboa

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A entrada principal da mesquita A mesquita de Lisboa foi inaugurada em 1985. Construída na colina que sobe de S. Sebastião, a sua arquitetura destaca-se no meio do casario lisboeta, mas não são muitos os não-muçulmanos que lá entram. Ontem, a mesquita abriu mais uma vez as suas portas, para uma visita aberta a todos, crentes e não crentes, organizada pela Um Outro Olhar, Divulgação Cultural . Guiados pelo Sheik Munir, há muitos anos à fente da Comunidade Islâmica de Lisboa, os visitantes puderam percorrer todos os espaços da mesquita. A Sala de Orações Uma mesquita é, acima de tudo, um espaço de oração. Por isso, o espaço mais importante é a grande sala de orações, de uma beleza contida, com o seu nicho apontando a direção de Meca, o seu enorme candelabro, os painéis de azulejo com versículos do Corão ou simplesmente motivos florais. Todo o chão está coberto de tapetes, já que os crentes devem rezar descalços, sobre um local limpo. Os azulejos estão muito presentes, lemb

Turismo vs. Vandalismo

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Ontem à tarde, tive de ir à Baixa fazer umas compras. Caminhava sem pressas, a apreciar o sol, que não nos tem brindado muito com a sua presença nestes últimos tempos! Vinha do Rossio para os Restauradores e o meu olhar foi irresistivelmente atraído para o espaço vazio onde, até à semana passada, estava a estátua de D. Sebastião, antes de ser destruída pela vã glória de uma foto. Uma figura relativamente pequena, num nicho entalado entre dois arcos em ferradura, na frontaria da Estação do Rossio. Dois arcos em ferradura, talvez a lembrar-nos do cavalo branco que deveria trazer-nos de volta, numa manhã de nevoeiro, aquele pequeno rei.  Não sou grande admiradora de D. Sebastião. Foi um rei pequeno, na estátua e na História, um rei sonhador e aventureiro, que levou Portugal para uma aventura sem lógica e sem glória, cujo final é de todos conhecido. O jovem Sebastião e os seus sonhos foram o resultado de um determinado contexto político, social, religioso e ideológico, dir-me-ão

O Mistério das Peúgas Desaparecidas

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É um mistério que me acompanha desde há muitos anos. De vez em quando, depois de uma lavagem de roupa, lá aparece uma peúga desemparelhada! O que aconteceu? Para onde fugiu a outra peúga? Sem resposta para o enigma, vai aumentando o montinho de meias solitárias, na prateleira da despensa... Eternamente à espera do seu par... Sempre desconfiei que este enigma não intrigava apenas a mim. Lembro-me de um filme que vi já há muitos anos, em que uma criança explicava, de forma simples, o que achava que acontecia às meias perdidas: haveria um Céu das Meias para onde iam todas as meias desaparecidas e, quando morrermos, voltaremos a encontrar todas elas, muito bem arrumadas num grande cesto. Pareceu-me uma explicação encantadora, mas pouco convincente. Aparentemente, o mistério das meias desaparecidas continuou a fascinar várias pessoas.  O matemático especialista em estatística Geoff Ellis e o psicólogo Simon Moore desenvolveram até uma fórmula que, asseguram, prevê o risco de p

Não percam a esperança

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"Não percam a esperança!" foi esta a mensagem que o Papa Francisco deixou aos refugiados do campo de Moria, que visitou este fim de semana na ilha de Lesbos. Sim, não percam a esperança, porque muitas vezes é só o que lhes resta. Já perderam a casa e os amigos, perderam o trabalho e as recordações de uma vida inteira, perderam familiares, perderam sonhos. Entalados entre fronteiras, apanhados entre jogos de poder e hipocrisias, não lhes resta mais nada. Não percam a esperança!

Amadeo de Souza Cardoso, o modernista esquecido

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Amadeo em Paris Em boa hora vai realizar-se em Paris, no Grand Palais, uma grande exposição que reúne e divulga a obra de Amadeo de Souza Cardoso.  Como portuguesa e frequentadora do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, a obra de Amadeu sempre me foi familiar. Lembro-me também de uma grande exposição que a Gulbenkian organizou, aqui há anos, com a retrospetiva do pintor, e que foi um tremendo sucesso. Mas fora de Portugal o seu nome é quase desconhecido e isso é uma enorme injustiça. Entrada Esta semana, foi a anteestreia do filme/documentário Amadeo Souza Cardoso, o segredo mais bem guardado da arte moderna. Realizado pelo francês luso-descendente Cristophe Fonseca, mostra-nos o percurso do pintor, desde a sua infância minhota, até à sua morte precoce, em 1918. E permite compreender melhor a dimensão da sua obra e as razões do seu esquecimento. Através da tela, seguimos o autor para Paris, onde conhece e se torna amigo de alguns dos grandes nomes d

D.I.Y. - Do it yourself

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Uma horta de temperos na varanda Vivemos num mundo cada vez mais massificado e plastificado. Fazemos todos mais ou menos as mesmas coisas, que nos são sugeridas pela comunicação social ou pelas redes sociais, mais ou menos da mesma maneira. Muitas vezes fazemo-lo sem qualquer pensamento crítico; outras vezes, percebemos que vamos com o rebanho, mas não temos tempo ou disponibilidade para fazer outras escolhas. Compramos os móveis do IKEA, mesmo sabendo que ao fim de três ou quatro anos já se estarão a desfazer. Compramos comida feita, ou pronta a fazer, apesar de termos noção de que nada bate uma sopa feita na hora. Compramos roupa barata, fechando os olhos e a consciência ao modo como ela é confecionada, lá para Oriente. E por aí fora... Provavelmente por todas estas razões e mais algumas, está a afirmar-se a tendência para o Do it yourself. Tem a ver com a produção de coisas com as nossas próprias mãos, segundo técnicas antigas e artesanais, mas principalmente com uma afirm

Domingo, para mim, é um dia assim-assim...

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Enfrentando o novo desafio da Chica para esta semana, tenho de fazer uma frase com a palavra domingo. E dou por mim muito dividida... Domingo, dia do Senhor, por isso dia de descanso para os cristãos. Durante muito tempo, o único dia de descanso semanal. Um dia abençoado, portanto! Ainda hoje, passamos a semana a desejar o fim de semana, a ansiar por aquele dia, especial entre todos, feito para descansar. E, no entanto, é um dia esquisito, porque funciona como uma espécie de ponto prévio da semana que se vai iniciar. Quantas vezes passamos o domingo a preparar o que vai ser necessário durante a semana? Às vezes, são os cozinhados que têm de ficar meios alinhavados, porque durante a semana não há tempo para cozinhar. Outras vezes, há que adiantar trabalhos, relatórios, documentos. Há que ir às compras, ou passar a ferro... ou tantas outras coisas a que a vida nos obriga! E, à medida que o dia vai passando, vai-se avolumando a sensação de que se aproxima mais uma semana de traba