Burkini ou não, eis a questão

Mulher muçulmana, usando um burkini, faz surf numa praia da Califórnia

Durante as férias que agora vão terminando, um dos países por onde passei foi a França. Como, mesmo em viagem, mantenho o hábito de ir ouvindo as notícias logo de manhã, apercebi-me que havia dois assuntos que dominavam os noticiários franceses: um deles era a polémica do burkini. Ao outro assunto voltarei, aqui, noutra oportunidade.
Para quem anda mais distraído, o burkini é uma espécie de pijama de mangas e calças compridas, que inclui um toucado ou lenço para a cabeça e destina-se às mulheres muçulmanas que querem ir a banhos. Vou ser muito sincera: não tenho qualquer espécie de simpatia por um regime político ou uma religião que subalternize a mulher. Essa subalternização pode ser feita de muitas maneiras, desde impedindo-as de ir à escola até à obrigação de se esconderem atrás de uma fatiota disforme e uniforme, que as despersonaliza e retira da visibilidade social. Recordo-me de ter visto algumas dessas mulheres no Mar Morto, tomando banho, com os seus fatos pretos boiando à sua volta como aves de mau agouro. Face a essa imagem, tendo a simpatizar com o burkini. Afinal, é uma forma de lhes garantir alguma liberdade de movimentos, alguma alegria e até alguma personalidade diferenciada. Dominadas por uma pressão religiosa e social que não lhes reconhece o direito à alegria, o burkini fornece-lhes uma pequena arma de transgressão socialmente aceite. 
Há outro aspeto que não é negligenciável, na sociedade francesa como em qualquer sociedade ocidental: a liberdade. Esse é, provavelmente, o maior valor que as revoluções liberais nos deixaram, a intangibilidade das nossas liberdades individuais. E nós exercemos alegremente o direito a fazer o que bem nos apetece ou a vestir o que bem queremos. Lembro-me, quando era miúda, de ver as senhoras mais idosas na praia, todas vestidas mas, mesmo assim, felizes, a molhar os pés ou a dar a mão a um neto à beira-mar. Elas não usavam fato de banho. Por pudor. Por cultura. E se um polícia chegasse ao pé delas e as obrigasse a despir? Acharíamos bem? Ou a nossa defesa da liberdade é diferente, quando se aplica a outros ou a nós próprios?
O argumento dado pelos municípios franceses que proibiram o burkini também me faz confusão. Ver mulheres de burkini faz as pessoas sentirem-se inseguras, porque as associam ao terrorismo islâmico e aos atentados? Então, a melhor maneira de lutar contra o terrorismo islâmico é escondendo os muçulmanos? Nada disto faz sentido. Ou talvez só faça sentido se for integrado na grande desorientação que grassa nas nossas sociedades. Mas que não nos deve fazer esquecer os nossos valores fundamentais, aqueles que fazem a nossa diferença.

Comentários

  1. Acho uma discussão tão boba e uma grande perda de tempo. Elas pelo menos com os burkinis, podem aproveitar mais, se divertindo como outras mulheres. Proibição tola, como tola e tanta coisa!! bjs, lindo dia! chica

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  2. Absolutamente de acordo. Uma coisa é proibir a burka nas ruas ou nas escolas, pois impede a identificação do indivíduo que se esconde por detrás dessas vestes. Outra muito diferente é exigir que não se use uma certa vestimenta na praia, quando a identificação é completamente possível. E exigir que a dispam, então, é o disparate mais completo.

    A minha avó nunca usou sequer um fato de banho, nem imagino a indignação se a obrigassem a despir a sua fatiota para vestir um! :P

    Beijocas

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